Três estações

on sábado, 31 de maio de 2008
Cheguei à seguinte conclusão: O Brasil não tem estrutura para ter inverno. Sim, nosso país não possui as devidas condições para suportar essa bonita estação do ano. Deveriamos abdicar desses três meses gelados, que embora tragam momentos ímpares do mais puro êxtase parnasiano, para o bem geral de nosso povo.

Pensem comigo, a quantidade de pessoas que ficam doente nessa época não é brincadeira. Os hospitais entopem de material humano, e é comum vermos reportagens na tv mostrando crianças com problemas como brônquites, asma, Bronquiolite e outras patologias respiratorias que tem nomes tão desagrádaveis quanto seus sintomas. Poucos nebolisadores, muitas crianças. E os velhinhos? Pobres velhinhos. Tem senha? Lamento. Sente ali, se der prometo que lhe chamo. Não temos o que possa se chamar de Saúde eficiente no Brasil. Inverno. Passemos então. Não é pra nosso naipe.

E os moradores de ruas? Ok, mendigos se preferir. Se você sente congelar até a alma mesmo estando soterrada embaixo de pilhas e pilhas de cobertores, um mais grosso que o outro, dos mais diversos tipos de lã,imagine as pobres pessoas que vivem (viver não é a palavra certa, mas em frente) debaixo das pontes ou aquelas que estragam o visual bonito das praças da cidade vistas de sua janela perto da lareira, em seus bancos, tentando se tapar (e quando tem) com jornais. Meu Deus, como podem encarar o beijo de boa noite do chão de concreto frio e insensível abaixo deles sem lástimar suas sortes. Será que é querer demais uma vida mais classuda para os mendigos? Pobres homens em corpos de cãos, as margens da sarjeta que lhes parece alta demais. Embora alguns cachorros emergente passem melhor que eles. Têm até sobrenomes. Eles nem o pré-nome muitas vezes lembram. E quem vai ajuda-los? Superman, Batman? Politicos honestos que se preocupam com as mazelas sociais? Não, nenhum deles existem. São apenas fantasias de nossas mentes, preservadas de nossas infâncias quando ainda acreditávamos num mundo justo, utópico. A bolsa-familia não é tão bacana quanto parece. Essa bolsa não combina com os olhos, olhos esbugalhados de fome, de uma criança que não consegue dormir e chora. Que pena. Não tem fondue para vocês darlings. Assistencia Social? Não temos também.Que pena. Deixem o inverno partir. Não o detenham.

Que pretensão do Brasil, querer ser como os países de primeiro mundo, onde tem aquele friozinho gostoso, que você pode aproveitar no momento que lhe atrai. E que quando cansar é só ir para dentro de casa e ligar o termôstato, e puf! Sua casa está quentinha. Você também está.

Nosso país não tem estrutura mesmo, o que é uma pena. Não há nada tão gostoso como namorar num dia frio, vestir roupas mais elegantes para ir num restaurante, pés sem meias que se procuram durante a noite, assistir filmes embaixo de um grande cobertor tomando chocolate quente. Hmmmm... Que delícia, características que só o inverno tem, mas infelizmente que ninguém gostaria de aproveitar enquanto nossos irmãos passam maus bocados.

De repente se nos comportarmos melhor, votarmos com consciência, podemos requerer a volta do inverno. Mas só quando tudo estiver preparado, pronto para o recebe-lo. Talvez ele então possa se sentir mais livre para trabalhar e nos possa brindar com a tão sonhada neve. Desde que todos possamos nos aquecer durante o seu frio. Afinal, ninguém quer ter um coração frio.

Saul Junior

As vezes cansa gostar de ti

Eu sempre corri atrás de você. E como seria diferente se você é linda, engraçada, cativante e possui nos olhos o brilho das estrelas. Bem resolvida, interessante, assiste aos filmes típicos de mulheres, mas não chora. Aguenta firme para mostrar sua força. Dias depois externaliza isso ao ver sua bota preferida se sujar de lama. Tudo certo, afinal ninguém pode ser de ferro e ser tão delicada ao mesmo tempo.Tudo que você faz é belo, tudo que toca cria vida. Bonita, charmosa, carinhosa …

Porém cansei. Chega!! Não vou correr mais atrás de você, lhe implorar migalhas de sua atenção. Falei. Não será mais eu que gritará em sua janela pedindo pra te ver, nem fechar seus olhos e pedir que você adivinhe quem é. Flores não mais virão de mim. Porque você é tudo isso (e muito mais ), mas sou eu quem possuo a maior das qualidades. A maior e a melhor. Eu tenho apreço por você. Um amor profundo por ti, que me faz saber quão precioso sou.

Eu sei que esse sentimento que nutro é o que mais lhe atrai. É o que te faz saber que se necessário for, sairei nas noites frias do mais gélido inverno para achar o doce que lhe deu vontade de comer enquanto você assistia sua novela. Ou ainda que simularei uma queda para desviar a atenção daqueles que riam de uma gafe sua. Bancarei o tolo por você. Lhe deixar estourar as bolhas do saco plástico de onde veio nossa TV recém adquirida em grandiosas prestações. Romances não acontecem somente em palácios. Faço tudo por ti, é só você me pedir, sabes bem, que és meu maior bem. Que não deprecia, mas aprecia com uma expressão no rosto, quando lhe trago um café da manhã na cama, você em seu pijama, naquilo que chamo de uma imagem feliz ao te ver espreguiçar com um sorriso de sono.

Não quero te assustar, apenas te dizer que é sua vez. Se ponha em meu lugar. Esqueça ser feminista, não existe isso entre duas pessoas que se amam, se respeitam. Somos iguais, nem mais, nem menos. Apenas nós. Faróis de uma paixão insana, que nem por isso queima dinheiro ou baba lençol. Somos loucos um pelo outro mas somos sensatos a ponto de reconhecer que precisamos de espaço as vezes mas que, ei!! Não se distancie tanto. Posso precisar de você. Chegue mais perto, a cama está vazia de seu lado, desagravo. Algo está errado. Consertemos então.

Então ficamos assim. Você me ama por eu amar você. Mais que isso… Não posso viver sem ti. Corra atrás de mim, chame minha atenção, faça eu rir de suas tentativas, afinal não conheço amor sem humor. Faça um ninho em seus braços e tente me fazer pousar, me interessar. Não desista, também posso fingir desinteresse. Porém você sabe que é apenas charme, que preciso saber que você reconhece em mim tudo aquilo que vejo em você. Que me faz crer, que se tenho valor alguém correrá atrás de mim também. E quando vier em minha direção, espero que não esteja ofegante, mas sorrindo. Com um buquê de atenção pra mim, com uma expressão de “não te esqueci e jamais faria isso.” Vamos fazer de novo. Recomecemos. Tudo bem, volto ao meu papel, e você ao seu. Podemos brincar de namorar, se não cansar. Depois a gente toma fôlego e fazemos de novo. O amor é feito de recomeços, tropeços, acertos. Amassos. Não o de adolescentes, mas aqueles gestos que afofam o coração mas não danificam a lataria.

Você é a flor mais cheirosa de todos os jardins que procurei. Por favor, me conquiste também. Só isso que peço, e convenhamos, até é pouco. Perto da intensidade que nossos corações batem ao vermos um ao outro…

Saul Junior

O primeiro texto a gente nunca esquece

Escrever é uma arte, alguém disse certa vez em algum tempo já esquecido. E eu tive a sorte e a dádiva de nascer arteiro. Brincadeiras a parte, escrever é algo que transcende o ato de por pensamentos grafados num papel. É bem mais que isso, muito mais. Qualquer um pode escrever, qualquer um. Qualquer um pode escrever corretamente com o advento dos editores de texto, nos tornamos os mestres ortográficos, os menestréis da concordância.

Porém se engana quem acha que é fácil fazer um texto. É uma tarefa árdua que exige disciplina e sensibilidade. Disciplina para escrever todos os dias ao menos algumas linhas mesmo que seja aquela extensa lista do que comprar no supermercado. Claro, não espere convite para a academia de letras, mas é válido. Escrever sempre é válido. Sensibilidade para fundir o seu gosto com o de quem está lendo sem ser falso, sem se apunhalar a si mesmo (sim, escrever o que os outros gostam sem ser sua praia é um belo de um tiro certeiro no pé). Ser sensível a ponto de penetrar nas entranhas (ui!!) de quem está lendo, mais além até, na alma escrutinavel das pessoas descobrindo e desnudando até mesmo os seus mais tenebrosos pensamentos obscuros, tendo que saber lidar desde aqueles que lêem Guerra e Paz até aqueles que apreciam a obra de Charles M. Schulz., no simpático Peanuts (eu nunca li Guerra e Paz, me enquadro nas tirinhas). Tem que estar preparado para saber agradar a todos. Gregos e troianos… e você é claro.

Toda arte se desenvolve com o tempo, com a prática e a persistência. Eu finalmente tenho um espaço pra dizer o que eu penso, de praticar, de arriscar, de ser eu. É o lugar de errar. De ousar, tentar ser grande. Ser maior que grande. Ser mais maior. Acham que eu deveria grifar a parte de aqui ser o lugar de errar?

Creio que escrever num espaço assim pode se comparar a plantar uma arvore. Você tem que regar, cultivar e acima de tudo dar carinho. Todo dia!! E então verás depois de um tempo (maior do que aquele que esperamos, mas menor do que aquele que realmente merecemos) que seu trabalho árduo está grande e palpável e que lhe estende frutos deliciosos. É só erguer as mãos e pega-los de sua rede. Enfim, nada é tão fácil como parece…

Queria eu poder fazer como meus escritores favoritos, passear no parque de manhã, observar os pássaros, cheirar as flores. E correr pra casa com uma idéia incrível ao observar um formigueiro. Ou simplesmente deitar numa rede e bolar algo genial… mas como eu não ganho para fazer isso me possibilitando escrever de pantufas em casa numa manhã de sol,me contento em meio à correria do meu trabalho, quando o tempo me permitir, escrever coisas um pouco mais belas do que elas se apresentam no dia a dia, quando elas se revelam em sua forma bruta. Achar o que tem em mais belo em pegar um ônibus lotado enquanto um alemão de bigode ondulado esfrega as axilas, vulgo sovaco em você. É… Olhando desse ponto escrever é realmente tirar leite de pedra. Entretanto nada que me faça recuar, pois como diz o poeta da minha terra: Não se micha um povo vivente!!

Então aqui começa mais um momento de plantar de minha vida, no qual a certeza que eu tenho é que independente do que aconteça o sonho permanece. Não sou leviano a ponto de dizer que não gostaria que milhares de pessoas passassem por aqui lendo, comentando, elogiando, criticando, enfim… participando!! Seria bacana, mas o mais legal disso tudo é isso, estou praticando!!Aqui começa minha carreira literária, não é ainda uma coluna do jornal Zero Hora, mas quem sabe um dia… Ah!! Um dia…

Saul Junior