O mundo não pára. Você piscou, ficou para trás. Hoje em dia
as pessoas levam seus celulares até para o banheiro com medo de perderem um
grande evento. É preciso estar ligado full
time para não perder nadica de nada. Você pode estar defecando e um novo
atentado em Washington mudar o jeito como o mundo se vê e aí meu amigo é
preciso correr, se adaptar. Na verdade para você... Comentar feito louco sobre
o ocorrido.
Exatamente hoje o Facebook está fazendo dez anos.
Praticamente um menino. Com masturbações de paciência de todos os tipos. Você
pode ter queixas, elogios, só o que você não consegue é ser neutro. Ausente menos.
Você está lá dentro, mesmo que seja para criticar a própria rede social. Talvez
seja essa a grande força dessas novas ferramentas sociais: Ninguém quer ficar
sem ser ouvido. No caso lido, você entendeu. Foi-se o tempo em que acontecia na TV e ponto,
aquilo era daquele jeito e esquece. Não, hoje você pode abrir seu Twitter e
entre um arroba perguntar para aquela grande estrela se não está na hora de ela
fazer umas aulas na escola do Wolf Maya. Ou avisar em forma de gozação para o
homem mais rico do mundo que seu sistema operacional continua um cacareco. Ainda
dá pra perguntar para uma grande emissora em um chat ao vivo por que eles não fazem uma cota para beneficiar
crianças carentes de todas aquelas votações pagas de reality shows. Esse é o verdadeiro espetáculo de realidade, o ser
humano quer se expressar. Pode ser sobre o que almoçou, o que ganhou no dia de
Reis, quando e com quem está malhando, tem gente que filma até o momento do ápice
do sexo e põe na rede. Com olhinhos revirando e tudo. Tudo pelo direito a voz. Às
vezes - quase sempre, eu sei – é irritante para burro ver hashtags, marcadores,
com as palavras “partiu” e “banho”, porém é a natureza humana querendo
demonstrar seu conteúdo. Muitos ainda não viveram o suficiente para tê-lo ou
mesmo vivem uma vida de pobreza intelectual para achar que serão admirados por
isso, mas estão sendo vistos e entendidos. É a velha máxima do falem mal, mas
falem de mim.
Desde que o mundo é o que é as pessoas querem ser admiradas,
bajuladas, e na ausência de tudo isso pelo menos vistas. Faraós erigiram pirâmides
colossais para serem idolatrados, os gregos tiveram que criar a democracia para
comportar tantas opiniões divergentes e os romanos queriam dizer aos berros
para o imperador dizimar com o gladiador fracassado mesmo que soubessem que ele
já estava disposto a perdoá-lo. Agora graças a Mark Zuckerberg e outros
pioneiros das redes digitais ninguém mais consegue ficar sem ter amizades, por
mais superficiais que elas sejam, mas estão lá. Vazias e presentes, todo
ouvido. E todos viraram grandes cronistas, especialistas em diagnósticos médicos,
filósofos, orientadores da nação e abalizados conhecedores da natureza humana.
Ser invisível é a pior coisa que pode acontecer a alguém. Saber
que você passou pelo planeta e não chocou ninguém é deveras aterrorizador. Você
com todas essas portas abertas para o mundo pode e deve expressar-se
salientando todas essas convicções que você sente ultimamente cada vez mais viscerais,
mas só fique ciente que talvez ninguém se importe com isso. Mas pelo menos você
opinou, já não é o bastante? Creio que sim.
É mais ou menos assim um resumo da ópera: O tamanho de sua língua
não muda muito a importância que tem sua boca. Enfim, parabéns aí pra essa rede
e pras outras também, cada uma no seu quadrado 2.0.
Pronto. Agora vou postar essa coluna, além desse site
bacana, no Facebook também, afinal de contas, não quero ficar de fora desse zunzunzum.