Estou aqui, ô.

on quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014


O mundo não pára. Você piscou, ficou para trás. Hoje em dia as pessoas levam seus celulares até para o banheiro com medo de perderem um grande evento. É preciso estar ligado full time para não perder nadica de nada. Você pode estar defecando e um novo atentado em Washington mudar o jeito como o mundo se vê e aí meu amigo é preciso correr, se adaptar. Na verdade para você... Comentar feito louco sobre o ocorrido.
Exatamente hoje o Facebook está fazendo dez anos. Praticamente um menino. Com masturbações de paciência de todos os tipos. Você pode ter queixas, elogios, só o que você não consegue é ser neutro. Ausente menos. Você está lá dentro, mesmo que seja para criticar a própria rede social. Talvez seja essa a grande força dessas novas ferramentas sociais: Ninguém quer ficar sem ser ouvido. No caso lido, você entendeu.  Foi-se o tempo em que acontecia na TV e ponto, aquilo era daquele jeito e esquece. Não, hoje você pode abrir seu Twitter e entre um arroba perguntar para aquela grande estrela se não está na hora de ela fazer umas aulas na escola do Wolf Maya. Ou avisar em forma de gozação para o homem mais rico do mundo que seu sistema operacional continua um cacareco. Ainda dá pra perguntar para uma grande emissora em um chat ao vivo por que eles não fazem uma cota para beneficiar crianças carentes de todas aquelas votações pagas de reality shows. Esse é o verdadeiro espetáculo de realidade, o ser humano quer se expressar. Pode ser sobre o que almoçou, o que ganhou no dia de Reis, quando e com quem está malhando, tem gente que filma até o momento do ápice do sexo e põe na rede. Com olhinhos revirando e tudo. Tudo pelo direito a voz. Às vezes - quase sempre, eu sei – é irritante para burro ver hashtags, marcadores, com as palavras “partiu” e “banho”, porém é a natureza humana querendo demonstrar seu conteúdo. Muitos ainda não viveram o suficiente para tê-lo ou mesmo vivem uma vida de pobreza intelectual para achar que serão admirados por isso, mas estão sendo vistos e entendidos. É a velha máxima do falem mal, mas falem de mim.
Desde que o mundo é o que é as pessoas querem ser admiradas, bajuladas, e na ausência de tudo isso pelo menos vistas. Faraós erigiram pirâmides colossais para serem idolatrados, os gregos tiveram que criar a democracia para comportar tantas opiniões divergentes e os romanos queriam dizer aos berros para o imperador dizimar com o gladiador fracassado mesmo que soubessem que ele já estava disposto a perdoá-lo. Agora graças a Mark Zuckerberg e outros pioneiros das redes digitais ninguém mais consegue ficar sem ter amizades, por mais superficiais que elas sejam, mas estão lá. Vazias e presentes, todo ouvido. E todos viraram grandes cronistas, especialistas em diagnósticos médicos, filósofos, orientadores da nação e abalizados conhecedores da natureza humana.  
Ser invisível é a pior coisa que pode acontecer a alguém. Saber que você passou pelo planeta e não chocou ninguém é deveras aterrorizador. Você com todas essas portas abertas para o mundo pode e deve expressar-se salientando todas essas convicções que você sente ultimamente cada vez mais viscerais, mas só fique ciente que talvez ninguém se importe com isso. Mas pelo menos você opinou, já não é o bastante? Creio que sim.
É mais ou menos assim um resumo da ópera: O tamanho de sua língua não muda muito a importância que tem sua boca. Enfim, parabéns aí pra essa rede e pras outras também, cada uma no seu quadrado 2.0.
Pronto. Agora vou postar essa coluna, além desse site bacana, no Facebook também, afinal de contas, não quero ficar de fora desse zunzunzum.