Dinheiro para velhos bolistas

on sábado, 15 de março de 2014


Estava "zapeando" pelo Facebook quando li que o Governo Federal (aquele do país de todos) aprovou um projeto de lei que beneficia jogadores que trouxeram o caneco em alguma das cinco Copas a terem direito a: a) prêmio de 100 mil de mascada dividida entre eles e b) Aposentadoria um pouco superior a R$ 4000,00. Aquilo coçou por dentro, quase como um grão de areia de praia que você remexe e não pára de procurar até achar aquilo que está incomodando atolado em sua sunga preta. Como qualquer pessoa não manipulada procurei fontes mais sérias do que uma rede social onde por mais que a comoção e a indignação sejam latentes potencializa o lado negro do partidarismo e da manipulação. Pois bem, realmente a afirmação tem um bom pedaço de verdade. Uma lei proposta na época do governo Lula (Aquele do bordão “’Lulalá’, brilha esperança... ‘Lulalá’”) realmente dava direito a jogadores das Copas  de 1958 a 1970 a ganharem uma aposentadoria especial custeada pelo Estado (aquele que é laico, mas que não é apolítico) do valor informado anteriormente no texto, assim como é verdade que os inscritos na entidade do filho do goleiro Gilmar receberiam R$ 100.000,00 cada um. Cada um. Okay, sabemos agora o pano de fundo então vamos ao grosso do assunto.
Acho justo as pessoas terem uma velhice confortável, de poderem não depender de parentes e conseguirem se governar alheios a mandos e desmandos dos que assumiram o mundo. Porém é um estupro financeiro fazer caridade com a cartola alheia. Jogadores de futebol das antigas merecem nosso respeito, encaravam a profissão com seriedade e com baixos salários em contraponto com as vultosas somas que destroem egos dessa geração “enche meu bolso” (em detrimento do saudoso “toque me voy” argentino), porém assim como passam fome esses atletas que já deram muito orgulho para seu país isso nada mais é do que uma profunda análise do nosso Brasil onde ainda existem números alarmantes de situações que em pleno século XXI nem sequer deveriam ainda ser ouvidas como falta de saneamento básico, crianças sem alimentação e educação suficientes para deixarem a inanição e o alfabetismo funcional, ou orgias públicas orçamentárias. Enfim, o certo é que existem inúmeras profissões por aí de gente como você e eu que ganham um salário alto e outros da mesma carreira que recebem não mais do que o suficiente para darem o pão (aquele que o menino pergunta se tem no céu antes de morrer) nosso de cada dia para seus rebentos. O governo deveria medir suas atitudes, não é possível que servidores públicos (políticos ou não) tenham feito algum estudo que faça ser plausível essa ação. Para nos chantagear que a previdência está sem fundos sempre aparece algum, mas também pudera nossas economias de vida perambulam por fornicações monetárias de seres porcos e inescrupulosos. É nosso dinheiro que vocês estão simplesmente fornecendo por predileção a quem querem e por motivos que lhes importa, por que não forçam a FIFA (aquela do padrão de qualidade e fortuna internacional, com mais adeptos que a ONU) ou a CBF (aquela que deveria se importar com o futebol brasileiro, mas não o faz de maneira nenhuma além de sugar tudo que vê) que banquem as contas dos jogadores que fizeram essas entidades terem o nome que tem. Aposto que a aposentadoria de todos os jogadores ganhadores de todas as copas não daria 10% de sua renda líquida. Porém o nosso governo é covarde como uma galinha e cretino como um criminoso hediondo, pois toma as dores dos seus amigos ricos. Se nem mesmo as obras da Copa consegue atochar, imaginem essas coisas me-no-res. Burros.
O texto da postagem lida no Facebook estava meio distorcido, é verdade, pois era nítida a orientação partidária dos que escreveram tais palavras, bem como também dava-se a entender que todos jogadores ganhadores de alguma Copa receberiam uma graninha, o que geraria mais indignação, pois pensar que grandes “erres” milionários recebam mesada de famílias subsistentes  seria o torcer do rabo do porco gordo (aquele que pegou travesti e só diz besteiras), porém a notícia é revoltante sem precisar dessa maquiada política que deram. Por isso cuidado ao ler textos sem fontes seguras, vale reforçar. Até concordo que o PT tenha feito mais sujeira do que os outros aparentemente mostraram e insista num assistencialismo desmedido, mas todos os partidos atuais tiveram suas chances para vandalizar o Brasil. Por isso olho vivo pessoal. É uma pena que sejamos tão impotentes por não podermos fazer nada já que achamos que nossa única força seja a bruta na hora dos protestos. Ninguém dá mais valor e reflete na hora das urnas, por mais que se diga que todos somos conscientes. Balela. Ninguém mais tem agregado valor ao camarote verde e amarelo na hora apertar o verde, seja eu ou você. E nos resta irmos trabalhar todo santo dia suando como boi bandido para que no futuro possamos ter com que nos sustentar no fim da vida já que o país não sustenta zés-ninguéns de verdade. Aos jogadores que vão receber essa “bolada”, fica o apelo para negarem com veemência. Pois por mais que não tenham ganhado rios de dinheiro como seus atuais colegas, pelo menos não ficaram asnos como eles a ponto de falar que com hospitais não se faz Copa. Dá um aperto no coração, né?  

Estou aqui, ô.

on quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014


O mundo não pára. Você piscou, ficou para trás. Hoje em dia as pessoas levam seus celulares até para o banheiro com medo de perderem um grande evento. É preciso estar ligado full time para não perder nadica de nada. Você pode estar defecando e um novo atentado em Washington mudar o jeito como o mundo se vê e aí meu amigo é preciso correr, se adaptar. Na verdade para você... Comentar feito louco sobre o ocorrido.
Exatamente hoje o Facebook está fazendo dez anos. Praticamente um menino. Com masturbações de paciência de todos os tipos. Você pode ter queixas, elogios, só o que você não consegue é ser neutro. Ausente menos. Você está lá dentro, mesmo que seja para criticar a própria rede social. Talvez seja essa a grande força dessas novas ferramentas sociais: Ninguém quer ficar sem ser ouvido. No caso lido, você entendeu.  Foi-se o tempo em que acontecia na TV e ponto, aquilo era daquele jeito e esquece. Não, hoje você pode abrir seu Twitter e entre um arroba perguntar para aquela grande estrela se não está na hora de ela fazer umas aulas na escola do Wolf Maya. Ou avisar em forma de gozação para o homem mais rico do mundo que seu sistema operacional continua um cacareco. Ainda dá pra perguntar para uma grande emissora em um chat ao vivo por que eles não fazem uma cota para beneficiar crianças carentes de todas aquelas votações pagas de reality shows. Esse é o verdadeiro espetáculo de realidade, o ser humano quer se expressar. Pode ser sobre o que almoçou, o que ganhou no dia de Reis, quando e com quem está malhando, tem gente que filma até o momento do ápice do sexo e põe na rede. Com olhinhos revirando e tudo. Tudo pelo direito a voz. Às vezes - quase sempre, eu sei – é irritante para burro ver hashtags, marcadores, com as palavras “partiu” e “banho”, porém é a natureza humana querendo demonstrar seu conteúdo. Muitos ainda não viveram o suficiente para tê-lo ou mesmo vivem uma vida de pobreza intelectual para achar que serão admirados por isso, mas estão sendo vistos e entendidos. É a velha máxima do falem mal, mas falem de mim.
Desde que o mundo é o que é as pessoas querem ser admiradas, bajuladas, e na ausência de tudo isso pelo menos vistas. Faraós erigiram pirâmides colossais para serem idolatrados, os gregos tiveram que criar a democracia para comportar tantas opiniões divergentes e os romanos queriam dizer aos berros para o imperador dizimar com o gladiador fracassado mesmo que soubessem que ele já estava disposto a perdoá-lo. Agora graças a Mark Zuckerberg e outros pioneiros das redes digitais ninguém mais consegue ficar sem ter amizades, por mais superficiais que elas sejam, mas estão lá. Vazias e presentes, todo ouvido. E todos viraram grandes cronistas, especialistas em diagnósticos médicos, filósofos, orientadores da nação e abalizados conhecedores da natureza humana.  
Ser invisível é a pior coisa que pode acontecer a alguém. Saber que você passou pelo planeta e não chocou ninguém é deveras aterrorizador. Você com todas essas portas abertas para o mundo pode e deve expressar-se salientando todas essas convicções que você sente ultimamente cada vez mais viscerais, mas só fique ciente que talvez ninguém se importe com isso. Mas pelo menos você opinou, já não é o bastante? Creio que sim.
É mais ou menos assim um resumo da ópera: O tamanho de sua língua não muda muito a importância que tem sua boca. Enfim, parabéns aí pra essa rede e pras outras também, cada uma no seu quadrado 2.0.
Pronto. Agora vou postar essa coluna, além desse site bacana, no Facebook também, afinal de contas, não quero ficar de fora desse zunzunzum.

De(nte)mente

on domingo, 8 de dezembro de 2013



Caio estava angustiado. Ouvia o barulho infernal transpassar pela porta de madeira. Se não estivesse com dor rangeria os dentes tamanho medo que começava a lhe tomar por completo. Uma pequena mulher ruiva de decote generoso levantou-se e pegou um copo d’água no bebedouro. Voltou com a coluna ereta e suas nádegas balançando graciosamente por baixo do pano vermelho de seu vestido. Esvaziou o copo na face do homem nervoso. Ele olhou perplexo para a garota e essa em movimentos ligeiros puxou boa parte da roupa sobre o soutien e mostrou um pedaço de seu mamilo que parecia um cravo sobre um lindo doce de caju desses de festinhas animadas. O rapaz gelou e esqueceu por alguns segundos seu pavor. Ela disse:

— Entre lá bonitinho e comportado e eu lhe darei eles. Combinado?

Caio acenou a cabeça em sinal positivo. Estava perplexo e parecia que um felino não apenas havia comido sua língua, mas também feito dela uma bola de carne tamanho sua boca pareceu inchada. Ele não sabia se seus dentes subiram ou se seu céu da boca desceu e isso pareceu vagamente um louvor do Padre Marcelo. Mas ele não era religioso e pensou com convicção nas mamadas. Levantou de bate e pronto e bateu com o punho sobre a parte do peito onde seu coração batia, apesar das artérias pesadas e entupidas em detrimento de uma vida regada por fast-foods.

— Eu vou. E prometo não ter medo. — Seus olhos faiscavam de uma determinação inarredável. Ouviu um ribombar que parecia vagamente uma voz lhe chamando de dentro do consultório. Deixou a sala de visita para trás onde uma jovem enxugava as lágrimas tamanho orgulho sentia.

Foi recebido por um travesti que vestia um uniforme de enfermeira gostosa. O nome no jaleco dizia “Mara”. “Ela” pediu que o cliente sentasse para que ela começasse o procedimento. Nervoso, mas ainda convicto obedeceu. Mara amarrou os braços e pernas do pobre rapaz com uma corda de material grosso e aplicou um excelente nó de marinheiro. Havia aprendido tantas coisas que levava para toda a vida quando serviu a Marinha, refletiu a enfermeira de braços fortes. Seus dedos afofaram algodões na goela de Caio e sem querer riscou sua unha rosa-calcinha no canino dele. Ele sentiu um gosto de esmalte na sua língua. Cada segundo distanciava mais sua coragem. Mas ainda estava certo do que queria. Aguentou na pele.

Então entrou o doutor. O médico dos pré-molares difíceis, o cirurgião dos canais. Um homem com o rosto largo e inexpressível. Sua pele era quase marrom e suas sobrancelhas lembravam a púbis da Claudia Ohana. Vestia uma camiseta preta por baixo de sua vestimenta de trabalho havia marcas de batom aparecendo pela parte não abotoada em seu pescoço. Ele checou o trabalho feito pela sua assistente e soltou uma interjeição de raiva. Ela havia esquecido o principal. Apertou mais um pouco os apetrechos e puxou uma corrente prendendo o tronco e sorriu para o jovem.

— Segurança. — Disse quase tossindo. Então em um ato natural abaixou as calças. O rapazote deu um pulo e todos aqueles braços de cordão e metal mantiveram ele na cadeira.

— Calma, jovem. Não dói tanto assim. — Apertou um botão e a cadeira inclinou como uma gangorra daquelas que toda praça tem uma ou duas enferrujadas. Caio pensou em gritar, mas a mulher atraente com tetas brancas lhe mantinham a língua parada sem reverberação. Não podia soltar um pio que fosse. Cravou as unhas no couro macio e emitiu um barulho abafado de peido de velha. O dentista com ar de neurocirurgião estalou os dedos no ritmo de uma melodia antiga de AC/DC e de trás de um biombo 5 anões vieram ao encontro deles em um trenzinho alegre. O último ainda tinha em sua mão uma taça de vinho. Seus pequenos narizes estavam vermelhos e seus olhos diminutos estavam inebriados. Pegaram um enorme cilindro dividindo o peso do mesmo entre seus 10 ombrinhos tacanhos. O menor deles levou uma concha de plástico até a boca do paciente e um gás incolor foi enchendo o recipiente. Caio sentiu suas pálpebras pesando como se o World Trade Center fosse amarrado a seus cílios. Sua retina contemplou os 5 anões despindo-se uns aos outros com exceção do maior que conseguia tirar suas próprias meias. Todos estavam agora nus. Farelos de biscoito enchiam seus olhos. Não conseguia aguentar acordado. Ouviu um silvo acobreado que lhe arrepiou a coluna e a alma. O anão maior correu desnudo e abriu uma portinhola cujo som de trás sugeria algum animal raivoso. Não dava mais. Dormiu.

Acordou em uma sala cheia de sofás para uma pessoa. Quase uma cadeira. Estava nu e babava um pouco de sangue. Havia um espelho perto de seu assento e com algum esforço correu até o objeto que o refletia. Deu um sorriso forçado e viu que cada um dos seus dentes pares havia sido extraído. O sorriso banguela transformou-se em uma careta de horror. Sentiu um tapinha na bunda, amistoso e quente. Cordial.

— Olha só quem acordou. Desculpe a barbeiragem. Não sabia qual era o dente que lhe doía. Anotei no meu caderninho e mostrarei ao meu supervisor. Próxima vez não vai ter erro algum, posso lhe garantir.

Caio sentiu vontade de gritar. Porém sua língua estava dormente e com um gosto estranho. Havia ainda fluídos com cheiros nefastos entre seus lados interiores da bochecha. Tinha vontade de chorar.  Passou a mão no traseiro, estava dolorido do provável tempo preso naquela cadeira desconfortável. Notou que seu dente ruim realmente melhorara. Apertou a mão do homem dos dentes com movimentos firmes e disparou para a porta de saída após vestir-se.
Não encontrou ninguém. Só uma velha com cabelos de fogo. Ela lhe tacou um beijo soprado em sua direção, mas ele ignorou-a totalmente. Era sempre assim, ela suspirou. A esperança é um jovem que com as intempéries da vida acaba enfraquecendo e perdendo seu valor pela senilidade. Frustrado saiu a toda velocidade sem olhar para trás. Por seus ombros ficava para trás uma enorme placa na saída do enorme empreendimento que dizia:

Complexo de Saúde Universitário do Dr. Josef Mengele.
Ensinando aos nossos futuros doutores e especialistas o ofício como arte. Tratamento gratuito para aprendizado de nosso corpo discente. Vagas urgentes.

Madiba

on sábado, 7 de dezembro de 2013


O mundo tem tantos heróis no cinema e tão poucos na realidade em que vivemos. Isso é muito triste. E os que remanescem são ceifados cedo. Sim, 95 anos é pouco para alguém que na história humana se tornou eterno. Gostaria de conhecer o Museu do Apartheid que fica na África do Sul. É um lugar que mostra o outro lado do ser humano. Um lado mau, mesquinho, cruel. Uma faceta que nos envergonha, que nos constrange. Um ângulo que tira um pouco do sentido de “Humanidade” que há em nossa definição nesse plano. Gostaria de ter conhecido Nelson Mandela. Um homem que pregava coisas tão batidas para um mundo tão progressivo. Tanto que esquece que não há substitutos tecnológicos para as pessoas. Alguém que ousou pensar que as pessoas poderiam ser iguais. O sorriso desse homem era tão enigmático quanto o da obra-prima de Da Vinci. Por fora parecia um canto de boca levemente erguido, mas por dentro ribombava um riso de sarcasmo para um mundo apodrecido. Por fora já parecia fraco, mas por dentro mantinha o prazer em mudar as coisas ao seu redor de uma forma pungente, muito mais além de seu corpo que se deteriorava, seu espírito parecia bramir como um leão selvagem africano. Não procurava vingança de seus algozes, mas sim um equilíbrio. O que também não significava esquecimento. Sabia bem o que queria.  O que dizia. Queria apenas paz, saúde, tolerância para os diferentes, amor. Queria apenas que as pessoas pudessem ser aquilo para o que estavam programadas desde sempre: Serem iguais. Poucos homens assim passaram por esse mundo. E poucos mais passarão. E eu tive oportunidade de viver na mesma época. Pena mesmo que não o conheci. Às vezes me sinto um pouco inútil por gostar tanto de cultura pop enquanto outras almas passam a vida lutando por pessoas que morrem de fome, de doenças ou pela ignorância alheia. Porém paro para pensar que cada um tem seu caminho. Alguns escolhem o mais difícil. Eu quando posso tento fazer alguém rir. E quando consigo sei que valeu a pena. Tento lembrar que sou o capitão de minha alma. Vá em paz, Madiba, que você ao invés de se tornar estrela vire uma semente que com o tempo germine bons frutos para um futuro melhor. Tipo a Educação. Tanto a de ser cortês para com o próximo, quanto àquela que constrói o indivíduo nas escolas, coisa que muito acreditou. E pensar que muita gente não sabe nem o que é o Apartheid... Já Velozes e Furiosos...

Moldando Caprichos

on quarta-feira, 27 de novembro de 2013
Acho impressionante a volubilidade que o ser humano é capaz de depreender as coisas ao seu derredor. Sério, acho incrível como ele pode mudar radicalmente a funcionalidade e até mesmo a finalidade de certas coisas. Para o bem e para o mal, mas até isso ele consegue deformar, o sentido de ética e princípios morais dependendo da veemência pode parecer como a retidão de uma linha de um escritor com Parkinson.
 
Furar uma fila pode parecer corretíssimo aos olhos de alguém que ache que porque tem só um item tenha preferência no mercado, na vida, em tudo. Os automóveis já deixaram de ser veículos que transportam indivíduos do ponto A até o B e mesmo a fútil utilização do carro como firmeza moral e compensatória do órgão fálico gigante já estão em desuso. Hoje em dia o veículo é uma arma. Disparada pela eufórica pressa do cotidiano e pela falta de modos geral um Corsa produzido em série em mãos erradas pode matar tanto quanto uma pequena guerra. Não é uma bomba atômica ainda, mas uma bomba-relógio, que apita para explodir a medida que o tempo se torna mais escasso nas grandes metrópoles. Daqui a pouco teremos que pedir porte de arma e não mais cadastro no DETRAN.
O celular já virou mascote. Mais que isso: da família. Nossas mãos tremem quando percebemos que o apetrecho tecnológico sumiu de nossa vista, de nosso bolso. Suamos em bica. Sentimos o vomito na portinha. Então respiramos aliviados quando percebemos que ele está bem em nossa frente na mesa de trabalho ou mesinha do nosso quarto, refletindo uma luz fria e debochada. Está em minhas mãos, certamente deve pensar o objeto. É a amante do século XXI. Livros viraram engodos para mostrar o quão letrado uma pessoa pode ser mesmo que as estantes conservem os moldes das brochuras em monumentos de poeira. O amor pode ser cárcere e o sexo pode ser banal perdendo qualquer característica especial. Temos uma maneira bem peculiar de ver o mundo e a natureza TEM que se adaptar aos nossos caprichos. Micos, Rinocerontes e Araras já viraram abajur faz tempo.
 
Hoje li uma notícia que um dos videogames da nova geração vem com um aplicativo que pode transmitir através de uma webcam embutida vídeos de suas jogatinas, só que fora usada para mostrar ao vivo e a cores (cor de pele predominava) o despir de uma mulher causando o bloqueio do tal jogador.  A mulher em questão era sua esposa e estava embriagada, com cara de tontinha pelo álcool. O dito cujo expôs sem qualquer pudor o corpo violão da sua garota para deleite dos que estavam com o joystick na mão.  Além do abuso e da falta de cuidados para o patrimônio da casa noto que essa pessoa conseguiu novamente dar uma utilidade impensada pelos criadores da PSN. Mas não adianta: No que o homem põe a mão ele o manipulará para seu bel-prazer. Pode ser a criação mais ingênua e bonita do mundo que se transformará em uma máquina instantânea de lasciva, fofoca, assassinato, ou ainda manipulação. Sempre seremos babacas, por isso sempre que você for fazer qualquer coisa na internet tenha todo o cuidado possível. Mesmo com isso não é garantia nenhuma. As pessoas jubilam esse lado de achar graça da desgraça alheia. Mais uma subversão para a nossa lista. Talvez exista apenas uma coisa que não possa ser transviada e esse homem, se a menina for esperta, vai sentir na pele que certas coisas não tem choro nem vela: A Confiança. Perdeu, bota fora que não recicla.

Dia da Consciência Humana

on quarta-feira, 20 de novembro de 2013


Parabéns, negão! Parabéns, branquelo! Japinha, fala aí! Narigudo, magricelo, bipolar e você também, orelha de abano. Como tão?  Gordinha sensual, aquele beijo pra ti. Não gosto muito de escrever sobre temas batidos, daqueles que todo mundo dá seu pitaco e ninguém chega a lugar nenhum. Muito menos quando eles são apoiados por datas que por si só já fazem do assunto exaustivamente discutidos. Porém, não dá pra não expressar a opinião em algo tão grande.
Acho o Dia da Consciência Negra uma data bonita. Não no sentido de ornamental, pendurar no pinheirinho ou em cima da lareira, essas coisas, mas sim de representação de marco. É importante você aprender a contar os dias e delimitar as vitórias alcançadas. Uma vez por ano as pessoas que tem a pele escura refletem, acho que o tema festejar não cabe aqui visto que é construído em cima de muito sofrimento e combalidas voltas por cima na defesa de seus direitos que foi escolhida essa época do ano, sobre tudo que passaram para conquistar o que não deveria ser privado para ninguém independente do pigmento. Erro histórico. E a conta vai pra quem? Vai para uma sociedade que a cada dia mais se divide, se enfurece e que só é contida pela letra fria da lei.
Assim como o natal não é uma festa em que todos comemoram, os judeus que o digam – que dirá os satanistas – e seu aniversário não é feriado nacional não vejo nenhum problema de homenagearmos um grupo de pessoas que merece os méritos de uma luta brava. Nos dois sentidos. É sem fundamento quem diz que é exclusão um dia só para eles.  Porém não posso me eximir de alicerçar uma opinião que vai jogar um pouco de água nesse bolo. Um pouquinho só, me perdoem.
Se o dia é da Consciência Negra isso quer dizer que só quem é negro deve refletir, conscientizar-se do valor humano? Devemos ser excluídos de pensar porque os negros sofreram tanto nos nossos livros de história e nos jornais de hoje em dia ainda sofrem diferenciação? Ta aí um grande erro. O certo seria falar abertamente sobre o problema e convidar a todos a ter orgulho de uma de nossas etnias. Daí amanhã podemos cantar vivas para os brancos e ainda que tal semana que vem aplaudirmos os índios? Beleza então, combinado no bar, fechou?
Não, Pedro Bó, não estou levantando aquela bandeira do dia do branco porque é óbvio que isso é besteira. Besteira é segregar. Besteira é obrigar. Que BESTEIRA é que eu esteja falando sobre cor sendo que o colorido é tão mais bonito. Morgan Freeman já perguntou antes de mim por que estamos discutindo a cor da pele.
Vou ainda mais longe. Não são as palavras que ferem os direitos, a honra e o respeito. É aquilo que está embaixo acobertado por uma malha de ódio e pura ignorância. Falar para o amigo que ele é “tão negro que é azul” ou “tão branquelo  que é azedo” não é discriminação. Ao contrário, entre amigos acaba em risos. A problemática é algo enraizado. São pessoas com a mente tão fechadas que cabem num envelope e ainda passam por baixo da porta tamanha sua pequenez. Não adianta muito falar para essas pessoas, elas só vão mascarar. Você pode prendê-las, mas elas só vão esconder o que pensam para não entrar em cana. Mas lá no fundo continuarão maquinando palavras mesquinhas e de ódio.
O que mudaria mesmo o mundo seria se fosse possível extirpar a maldade do ser humano e preenchê-la com amor, ternura, amizade e todas essas coisas que colocaram na receita das meninas superpoderosas. Infelizmente não tem como. Porém a sociedade e o governo alimentam a ira e a desigualdade promovendo diferenciação através de cotas que aumentam ainda mais a intolerância. Eu não me digo contra as cotas, para pobres sou favorável embora ainda ache que o dinheiro é mais bem aplicado em educação base, mas isso é xalalá que todo mundo já fala. Não vou perder o tempo hoje nisso.
O que quis dizer nisso tudo é que no dia da Consciência Negra você negro deve se orgulhar de sua luta e você branco (azedo ou não!) não deve se sentir envergonhado de opinar e ajudar a fazer do nosso mundo um lugar mais pensante. Pensante a ponto de ver as falhas nas estruturas e sugerir melhoras. Pensante para verificar os acertos e as medidas para consertar os balanços desiguais da gangorra da vida. Pensante a ponto de ter uma consciência que não dependa da imprensa ou do governo ou do que lhe prejudica ou favorece. Pensante para saber que como em uma aquarela ou uma pintura artística quanto mais cores você tiver, melhor. Você faz sombra, você faz brilho, tom sobre tom e no final você só faz uma coisa: Obra-prima.