Fuga inútil

on domingo, 23 de novembro de 2008
Ele corria sem parar entremetendo-se entre as frondosas arvores de Igarapé. Uma hora, claro, teve que parar. Exausto apoiou-se num tronco robusto. Estava ofegante, suas pernas, por algum motivo não aparente tremiam como vara verde. De esguio olhou para trás, e num impulso se pôs a correr novamente. Impulsionado por medos e fantasmas tomava uma velocidade capaz de deixar qualquer pensamento racional para trás.
Ao redor do percurso inúmeros rostos, alguns conhecidos, outros nem tanto. Mas para Jorge todas as feições nada lhe diziam, porque apenas observavam, nada faziam. Como urubus espreitavam a caça, esperando ela mesmo, por conta de seu destino encontrar seu fim. Aí sim, ao ataque!
Na realidade ele sabia que estava perdido, que por mais que corresse, a pesada mão do juízo alcançaria seu franzino pescoço. Pobre homem, vestido com uma camiseta social tão elegante, mas tão nu e pobre. Saltou. Como era acostumado com uma vida sedentária derrapou no chão. Apesar de seus quilinhos extras levantou. Não devia, talvez ali fosse seu lugar, certa vez ouvira que os covardes não são dignos dessa vida. Parou. Pôs suas mãos sobre seus joelhos tomando ar, estava exausto.

- Não, ainda não estou seguro. – Pensou o miserável homem. - Se me pegar meus dias de liberdade irão pelo ralo.

Pena que já estava fadado à prisão. Como se desconhecesse seu próprio futuro vagou por muitos lugares. Viu os barzinhos onde outrora comemorou o tri-campeonato do seu time, viu a pequena faculdade onde se formou, e de onde conseguiu logo uma vaga no mercado de trabalho, onde montou uma sólida profissão. Viu o lugar onde trocou o primeiro beijo com Joana. Viu o salão antigo da prefeitura, onde dizem, seus pais se conheceram. Nessa viagem por lugares embarcou tão fundo que acabou viajando ao passado. Viu sua infância marota, aonde fazia o que queria, era um pequeno tirano. Viu sua adolescência onde era o garoto mais popular da escola, todas meninas suspiravam por ele. Nossa, quanta coisa boa. Na sua juventude namorou quem quis, todas as garotas mais belas de seu bairro passaram por ali. E agora, esse triste fim?

- Não, ainda não. Se eu conseguir correr um pouco mais, só mais um pouquinho...

Mas a vida é implacável com os frouxos, e trata de derrubar esses facilmente. Logo atrás dele, de uma penumbra qualquer surgiu um vulto a persegui-lo. Cada vez mais rápido, mais determinado. Jorge olhou para trás e nesse momento começou a sentir a corda no pescoço. Correu o que deu, mas acabou tombando e indo de encontro com algumas latas de lixo. Sujo... Humilhado... Vencido... Seu adversário vencera. Sem nenhuma compaixão, lhe pegara pelo colarinho e o arrastara até o local onde assinaria o termo de cárcere. Tentou murmurar alguns acordos, mas nada. Tudo estava pronto e ninguém parecia disposto a negociar. A pequena mulher de braços fortes que o arrastava, resignou-se apenas a dizer:

- Que papelão hein Jorge? Seus pais estão mortos de vergonha. Que comportamento foi aquele quando o padre lhe perguntou se aceitava minha mão? Ora essa, francamente...

Até chegar na capela Joana falou mais algumas coisas, que Jorge não mais compreendeu. Talvez por estar disperso, observando um rapaz na praça, chorando por que uma rapariga não aceitara um beijo seu. Havia levado um fora. Na lata. Se sua gola, transformada numa coleira, não apertasse tanto talvez teria dito:

- Garoto de sorte. Não sabe o preço que um simples beijo tem.

Perfeitinha, mas de cara lavada

on sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Esses dias quase fui soterrado por olhares aterradores no trabalho, tudo por conta de uma preferência pessoal. Numa conversa sobre garotas, comentei que não gostava muito de mulheres que usam maquilagem, que as preferia bem ao natural, sem aqueles quilos de creme no rosto para esconder imperfeições. Fui vaiado.
Que culpa tenho eu de preferir garotas simples? Daquelas que pisam na grama de pés descalços sem fazerem cara feia, que se joguem no sofá sem se preocupar em desmanchar um penteado alicerçado no laquê, que goste de usar uma camiseta grande minha que já não uso mais... Em suma, meninas mulheres do seu jeito mais atraente possível, despreocupadas.
Não digo isso no sentido de mulheres que não se cuidam, não estou dizendo que mulheres devem usar máscaras de abacate com kiwis nos olhos, ou comerem tantos chocolates quanto o intestino agüentar. Digo que mulheres são tão bonitas, detalhadamente desenhadas, tão impressionantes em sua arte-final, que não é nenhum livrinho da Avon que as deixará mais atraente para nós, opa, para mim.
Na minha humilde opinião, deveríamos todos nos livrar de qualquer máscara que nos impõe a sociedade, as internas, e também as externas. A beleza é interior, mas de nada adianta se ela ficar presa lá dentro por essa crosta criada por uma quantidade absurda de cosméticos.
Agora a turma do serviço foi pra galera mesmo quando falei que não achava a Daniella Sarahyba lá grandes coisas. Isso não teve perdão. Ora ou outra alguém ainda invoca o fatídico dia que tive a falsa impressão de que poderia dizer o que penso. De nada adiantou meus argumentos sobre tal opinião, deveria me resignar àquele conceito em massa e aceitar as coisas como são. A Juliana Paes? Uma deusa, é claro.
Eu confesso que não sei de onde vem tamanha aversão por conceitos batidos, mas para mim mulher bonita tem muito mais a ver com atitude e jeitinho do que a ter um corpo escultural. Nada contra a isso, fique bem claro.
Mulher de atitude sabe como demonstrar que está interessada, faz você investir sem nem ao menos saber que ela que decidiu assim, sabe como fazer você querer ficar mais tempo do que o previsto com ela, e isso nada tem a ver com ela ser feia, bonita ou meia-boca. Ela tem um jeitinho que te deixa louco, se alinha perfeitamente entre seus braços, ela dá uma piscadinha quando vai embora que te faz ficar bobo, esquecer da vida, engolir palavras. Para isso não é necessário puxar ferro.
O resto é gosto, e cada um tem o seu. Gostar de ler, jogar videogame, ter um bom papo, ser carinhosa, pular de Bung Jump... O que importa mesmo é que ela é feita de uma matéria prima que não precisa de nenhuma mão de verniz para dar brilho, esse facilmente notado pelos seus olhos. Você a enxerga como se fosse néon numa sala escura e barulhenta, e ela está tão normal que chega a ser extravagante.
Meus colegas de profissão que me perdoem, mas mesmo abaixo de apupos não retrocederei nos meus devaneios do que para mim é uma mulher perfeita. Quero assim e pronto, sou teimoso demais, e sabe-se lá até que ponto vanguardista. Sei o que quero.
Amor verdadeiro precisa deixar de lado frescuras. Estar prontinho para sair para uma festa formal, e desaprontar–se tão ligeiro quanto, por que não aguenta ficar longe daqueles braços. Não encanar com o que penso sobre suas espinhas ou estrias, sei que toda mulher quer ser amada, e eu só a quero amar. Bastou. Nada é tão lindo quanto ver sua carinha de anjo, recém acordada a esfregar seus olhinhos, e dizer com voz tremulante: Bom dia! É sinal de que consegui aquilo que mais desejei, de ter quem eu amei.
Quando há entrega, há transparência e quando há transparência permite-se despir corpo e alma de qualquer adorno ou perfume, restando apenas o tato e o cheiro da pele da pessoa amada. E sobre a Daniella Sarahyba, ainda acho que ela tem uma baita cara de bolacha...

Saul Junior

Quebrando alguns espelhos

on domingo, 9 de novembro de 2008
As pessoas quando estão num mau dia não pensam duas vezes em exclamar que estão com falta de sorte. Gritam a plenos pulmões que é uma maré ruim, dias daqueles que demoram a passar... Toc, toc, bate na madeira, xô gato preto!
Porém há um certo exagero nessas frases, uma certa falta de medida nas palavras. Veja bem, as pessoas super valorizam as coisas. Você ter achado um bilhete de loteria enquanto se dirigia ao dentista é sorte, se premiado, muita sorte. Agora se você não achou bilhete nenhum, nem mesmo aqueles de trem, não é azar, só falta de sorte, o que não deve ser confundido com azar.
Epa!! Agora confundiu, deu nó em tudo. Como assim? Dá pra explicar? Mas é claro...
Você convida aquela gatinha da faculdade para sair com você, ela diz que tem namorado. Isso não é azar, é contra-tempo. Se ela aceitou o pedido para irem ao cinema e você empolgado com a companhia acaba falando demais e fala sem parar na sua ex, isso sim é azar, além de uma falta de habilidade com garotas. Se ela nem mesmo aceitou tomar sorvete com você por que não gosta de pessoas magras e prefere os homens de bolsos fartos, também não é azar, é sorte, a sua.
Um aluno ser reprovado de ano na 8ª série é chato, mas acontece. É parte da vida, é regra do jogo. Agora ele reprovar e saber que a partir do ano que vem passará a existir o 9º ano no ensino fundamental é azar mesmo. Você não merecia passar por isso. Você se formar com 9 anos de escola e não saber ainda interpretar um texto é muito azar, nasceu em um país que não se preocupa muito com a educação, apenas com bolsas-auxilio. Põe azar nisso.
Sorte, azar, duas faces de uma mesma moeda diria alguém. Na verdade eu diria que é apenas uma face, que dá vazão a duas realidades distintas entre si, mas que se mesclam e se alinham.
Na verdade somente seu futuro lhe responderá se um fato é sorte ou azar. Por mais que em determinado momento algo pareça ruim, pode ser algo transformador, que como tal necessita de aprendizado, e esses são sempre duros e árduos. Ninguém gosta da lição, do dever de casa, caderno de caligrafia, só queremos o recreio e a merenda.
Vejo tantas pessoas com superstições, com medo como se a natureza fosse uma inimiga militar que em qualquer piso em falso nosso nos fuzilasse com inúmeros tiros de mamonas. O planeta gira em torno de seu próprio umbigo. Ah! A rotação, nem se importa com nós, apenas segue seu rumo. Não fica conspirando contra ninguém, deixa isso para as pessoas mexeriqueiras, mestras nisso mesmo. Por quê? Do que temos tanto medo? Acredito que inconscientemente seja uma forma de nos precaver contra nós mesmos, se algo der errado culpe as estrelas, culpe o zodíaco, culpe a escada que você passou por baixo displicentemente. Porém seja como for, se você fracassou na vida, se suas metas e sonhos foram frustrados, ponha culpa no olho gordo. Culpe o azar, a urucubaca das pessoas mal-amadas. Essas sim, as verdadeiras culpadas por você com 47 anos de idade morar com seus pais, não ter um belo amor, e trabalhar num lava-rápido. Explicação (leia aqui desculpa) melhor não há.
Enfim, textos são difíceis de escrever, tem que montar as pecinhas soltas e torcer para que lá no fim elas se encaixem certinhas, ou não, essa é a parte complicada. Fui escrevendo deixando a pena me guiar (não a literal, e sim aquela metafórica), querendo falar do que já não mais sei. Tenho a herculácia missão de deixar-lhes um texto compreensivo, de fácil aplicação, mas já não sei mais se isso dará certo.
“Não reclame tanto”, “azar não existe”, “gatinhas da faculdade são ordinárias”... Não sei mesmo o que fica de lição. Talvez você encontre a sua, e eu a minha, e no final aprenderemos a conviver com o fato de que há pouco tempo para ainda desperdiçar com coisas pequenas, e que se deixar levar por fábulas e corroer-se por pensamentos de que tal coisa podia ter sido de tal maneira melhor, é apenas frouxidão. Se o juiz não apitou dá pra consertar. Vale tudo enquanto se tem tempo, até gol de mão. Só não deixem que vejam. Seja feliz e faça acontecer, e o que acontecer... Bem, tem de ser. Faça de novo e melhor...
Realmente eu espero que pra alguém tenha sentido alguma coisa aqui escrita, ou que prazer de ler ao menos tenha proporcionado, Senão foi muita falta de sorte...


Saul Junior

Olho de Pardal

on quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Alguém viu algum pardal? Alguém viu algum pardal?
Ele vôo sobre meu carro, fez um ninho na minha placa
e mesmo assim, fui preso abstêmio, acusado de ressaca...