Fuga inútil

on domingo, 23 de novembro de 2008
Ele corria sem parar entremetendo-se entre as frondosas arvores de Igarapé. Uma hora, claro, teve que parar. Exausto apoiou-se num tronco robusto. Estava ofegante, suas pernas, por algum motivo não aparente tremiam como vara verde. De esguio olhou para trás, e num impulso se pôs a correr novamente. Impulsionado por medos e fantasmas tomava uma velocidade capaz de deixar qualquer pensamento racional para trás.
Ao redor do percurso inúmeros rostos, alguns conhecidos, outros nem tanto. Mas para Jorge todas as feições nada lhe diziam, porque apenas observavam, nada faziam. Como urubus espreitavam a caça, esperando ela mesmo, por conta de seu destino encontrar seu fim. Aí sim, ao ataque!
Na realidade ele sabia que estava perdido, que por mais que corresse, a pesada mão do juízo alcançaria seu franzino pescoço. Pobre homem, vestido com uma camiseta social tão elegante, mas tão nu e pobre. Saltou. Como era acostumado com uma vida sedentária derrapou no chão. Apesar de seus quilinhos extras levantou. Não devia, talvez ali fosse seu lugar, certa vez ouvira que os covardes não são dignos dessa vida. Parou. Pôs suas mãos sobre seus joelhos tomando ar, estava exausto.

- Não, ainda não estou seguro. – Pensou o miserável homem. - Se me pegar meus dias de liberdade irão pelo ralo.

Pena que já estava fadado à prisão. Como se desconhecesse seu próprio futuro vagou por muitos lugares. Viu os barzinhos onde outrora comemorou o tri-campeonato do seu time, viu a pequena faculdade onde se formou, e de onde conseguiu logo uma vaga no mercado de trabalho, onde montou uma sólida profissão. Viu o lugar onde trocou o primeiro beijo com Joana. Viu o salão antigo da prefeitura, onde dizem, seus pais se conheceram. Nessa viagem por lugares embarcou tão fundo que acabou viajando ao passado. Viu sua infância marota, aonde fazia o que queria, era um pequeno tirano. Viu sua adolescência onde era o garoto mais popular da escola, todas meninas suspiravam por ele. Nossa, quanta coisa boa. Na sua juventude namorou quem quis, todas as garotas mais belas de seu bairro passaram por ali. E agora, esse triste fim?

- Não, ainda não. Se eu conseguir correr um pouco mais, só mais um pouquinho...

Mas a vida é implacável com os frouxos, e trata de derrubar esses facilmente. Logo atrás dele, de uma penumbra qualquer surgiu um vulto a persegui-lo. Cada vez mais rápido, mais determinado. Jorge olhou para trás e nesse momento começou a sentir a corda no pescoço. Correu o que deu, mas acabou tombando e indo de encontro com algumas latas de lixo. Sujo... Humilhado... Vencido... Seu adversário vencera. Sem nenhuma compaixão, lhe pegara pelo colarinho e o arrastara até o local onde assinaria o termo de cárcere. Tentou murmurar alguns acordos, mas nada. Tudo estava pronto e ninguém parecia disposto a negociar. A pequena mulher de braços fortes que o arrastava, resignou-se apenas a dizer:

- Que papelão hein Jorge? Seus pais estão mortos de vergonha. Que comportamento foi aquele quando o padre lhe perguntou se aceitava minha mão? Ora essa, francamente...

Até chegar na capela Joana falou mais algumas coisas, que Jorge não mais compreendeu. Talvez por estar disperso, observando um rapaz na praça, chorando por que uma rapariga não aceitara um beijo seu. Havia levado um fora. Na lata. Se sua gola, transformada numa coleira, não apertasse tanto talvez teria dito:

- Garoto de sorte. Não sabe o preço que um simples beijo tem.

Perfeitinha, mas de cara lavada

on sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Esses dias quase fui soterrado por olhares aterradores no trabalho, tudo por conta de uma preferência pessoal. Numa conversa sobre garotas, comentei que não gostava muito de mulheres que usam maquilagem, que as preferia bem ao natural, sem aqueles quilos de creme no rosto para esconder imperfeições. Fui vaiado.
Que culpa tenho eu de preferir garotas simples? Daquelas que pisam na grama de pés descalços sem fazerem cara feia, que se joguem no sofá sem se preocupar em desmanchar um penteado alicerçado no laquê, que goste de usar uma camiseta grande minha que já não uso mais... Em suma, meninas mulheres do seu jeito mais atraente possível, despreocupadas.
Não digo isso no sentido de mulheres que não se cuidam, não estou dizendo que mulheres devem usar máscaras de abacate com kiwis nos olhos, ou comerem tantos chocolates quanto o intestino agüentar. Digo que mulheres são tão bonitas, detalhadamente desenhadas, tão impressionantes em sua arte-final, que não é nenhum livrinho da Avon que as deixará mais atraente para nós, opa, para mim.
Na minha humilde opinião, deveríamos todos nos livrar de qualquer máscara que nos impõe a sociedade, as internas, e também as externas. A beleza é interior, mas de nada adianta se ela ficar presa lá dentro por essa crosta criada por uma quantidade absurda de cosméticos.
Agora a turma do serviço foi pra galera mesmo quando falei que não achava a Daniella Sarahyba lá grandes coisas. Isso não teve perdão. Ora ou outra alguém ainda invoca o fatídico dia que tive a falsa impressão de que poderia dizer o que penso. De nada adiantou meus argumentos sobre tal opinião, deveria me resignar àquele conceito em massa e aceitar as coisas como são. A Juliana Paes? Uma deusa, é claro.
Eu confesso que não sei de onde vem tamanha aversão por conceitos batidos, mas para mim mulher bonita tem muito mais a ver com atitude e jeitinho do que a ter um corpo escultural. Nada contra a isso, fique bem claro.
Mulher de atitude sabe como demonstrar que está interessada, faz você investir sem nem ao menos saber que ela que decidiu assim, sabe como fazer você querer ficar mais tempo do que o previsto com ela, e isso nada tem a ver com ela ser feia, bonita ou meia-boca. Ela tem um jeitinho que te deixa louco, se alinha perfeitamente entre seus braços, ela dá uma piscadinha quando vai embora que te faz ficar bobo, esquecer da vida, engolir palavras. Para isso não é necessário puxar ferro.
O resto é gosto, e cada um tem o seu. Gostar de ler, jogar videogame, ter um bom papo, ser carinhosa, pular de Bung Jump... O que importa mesmo é que ela é feita de uma matéria prima que não precisa de nenhuma mão de verniz para dar brilho, esse facilmente notado pelos seus olhos. Você a enxerga como se fosse néon numa sala escura e barulhenta, e ela está tão normal que chega a ser extravagante.
Meus colegas de profissão que me perdoem, mas mesmo abaixo de apupos não retrocederei nos meus devaneios do que para mim é uma mulher perfeita. Quero assim e pronto, sou teimoso demais, e sabe-se lá até que ponto vanguardista. Sei o que quero.
Amor verdadeiro precisa deixar de lado frescuras. Estar prontinho para sair para uma festa formal, e desaprontar–se tão ligeiro quanto, por que não aguenta ficar longe daqueles braços. Não encanar com o que penso sobre suas espinhas ou estrias, sei que toda mulher quer ser amada, e eu só a quero amar. Bastou. Nada é tão lindo quanto ver sua carinha de anjo, recém acordada a esfregar seus olhinhos, e dizer com voz tremulante: Bom dia! É sinal de que consegui aquilo que mais desejei, de ter quem eu amei.
Quando há entrega, há transparência e quando há transparência permite-se despir corpo e alma de qualquer adorno ou perfume, restando apenas o tato e o cheiro da pele da pessoa amada. E sobre a Daniella Sarahyba, ainda acho que ela tem uma baita cara de bolacha...

Saul Junior

Quebrando alguns espelhos

on domingo, 9 de novembro de 2008
As pessoas quando estão num mau dia não pensam duas vezes em exclamar que estão com falta de sorte. Gritam a plenos pulmões que é uma maré ruim, dias daqueles que demoram a passar... Toc, toc, bate na madeira, xô gato preto!
Porém há um certo exagero nessas frases, uma certa falta de medida nas palavras. Veja bem, as pessoas super valorizam as coisas. Você ter achado um bilhete de loteria enquanto se dirigia ao dentista é sorte, se premiado, muita sorte. Agora se você não achou bilhete nenhum, nem mesmo aqueles de trem, não é azar, só falta de sorte, o que não deve ser confundido com azar.
Epa!! Agora confundiu, deu nó em tudo. Como assim? Dá pra explicar? Mas é claro...
Você convida aquela gatinha da faculdade para sair com você, ela diz que tem namorado. Isso não é azar, é contra-tempo. Se ela aceitou o pedido para irem ao cinema e você empolgado com a companhia acaba falando demais e fala sem parar na sua ex, isso sim é azar, além de uma falta de habilidade com garotas. Se ela nem mesmo aceitou tomar sorvete com você por que não gosta de pessoas magras e prefere os homens de bolsos fartos, também não é azar, é sorte, a sua.
Um aluno ser reprovado de ano na 8ª série é chato, mas acontece. É parte da vida, é regra do jogo. Agora ele reprovar e saber que a partir do ano que vem passará a existir o 9º ano no ensino fundamental é azar mesmo. Você não merecia passar por isso. Você se formar com 9 anos de escola e não saber ainda interpretar um texto é muito azar, nasceu em um país que não se preocupa muito com a educação, apenas com bolsas-auxilio. Põe azar nisso.
Sorte, azar, duas faces de uma mesma moeda diria alguém. Na verdade eu diria que é apenas uma face, que dá vazão a duas realidades distintas entre si, mas que se mesclam e se alinham.
Na verdade somente seu futuro lhe responderá se um fato é sorte ou azar. Por mais que em determinado momento algo pareça ruim, pode ser algo transformador, que como tal necessita de aprendizado, e esses são sempre duros e árduos. Ninguém gosta da lição, do dever de casa, caderno de caligrafia, só queremos o recreio e a merenda.
Vejo tantas pessoas com superstições, com medo como se a natureza fosse uma inimiga militar que em qualquer piso em falso nosso nos fuzilasse com inúmeros tiros de mamonas. O planeta gira em torno de seu próprio umbigo. Ah! A rotação, nem se importa com nós, apenas segue seu rumo. Não fica conspirando contra ninguém, deixa isso para as pessoas mexeriqueiras, mestras nisso mesmo. Por quê? Do que temos tanto medo? Acredito que inconscientemente seja uma forma de nos precaver contra nós mesmos, se algo der errado culpe as estrelas, culpe o zodíaco, culpe a escada que você passou por baixo displicentemente. Porém seja como for, se você fracassou na vida, se suas metas e sonhos foram frustrados, ponha culpa no olho gordo. Culpe o azar, a urucubaca das pessoas mal-amadas. Essas sim, as verdadeiras culpadas por você com 47 anos de idade morar com seus pais, não ter um belo amor, e trabalhar num lava-rápido. Explicação (leia aqui desculpa) melhor não há.
Enfim, textos são difíceis de escrever, tem que montar as pecinhas soltas e torcer para que lá no fim elas se encaixem certinhas, ou não, essa é a parte complicada. Fui escrevendo deixando a pena me guiar (não a literal, e sim aquela metafórica), querendo falar do que já não mais sei. Tenho a herculácia missão de deixar-lhes um texto compreensivo, de fácil aplicação, mas já não sei mais se isso dará certo.
“Não reclame tanto”, “azar não existe”, “gatinhas da faculdade são ordinárias”... Não sei mesmo o que fica de lição. Talvez você encontre a sua, e eu a minha, e no final aprenderemos a conviver com o fato de que há pouco tempo para ainda desperdiçar com coisas pequenas, e que se deixar levar por fábulas e corroer-se por pensamentos de que tal coisa podia ter sido de tal maneira melhor, é apenas frouxidão. Se o juiz não apitou dá pra consertar. Vale tudo enquanto se tem tempo, até gol de mão. Só não deixem que vejam. Seja feliz e faça acontecer, e o que acontecer... Bem, tem de ser. Faça de novo e melhor...
Realmente eu espero que pra alguém tenha sentido alguma coisa aqui escrita, ou que prazer de ler ao menos tenha proporcionado, Senão foi muita falta de sorte...


Saul Junior

Olho de Pardal

on quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Alguém viu algum pardal? Alguém viu algum pardal?
Ele vôo sobre meu carro, fez um ninho na minha placa
e mesmo assim, fui preso abstêmio, acusado de ressaca...

Como o amor termina

on terça-feira, 10 de junho de 2008
Começara a chover. Já os primeiros pingos gelados tocavam a face ruborizada de Deise. Ela olhava ainda sem entender para o rosto inexpressível de Marcos. Esse desviava a atenção dos olhos dela por diversas vezes, como se procurando algo para se entreter ou se já neles não achasse mais refugio. Ela fitava-o fixamente procurando encontrar nele alguém que já não estava mais ali. Algumas horas que antes pareciam ser segundos, agora se tornavam milênios. Ventava muito, mas o frio que ela sentia na alma não era proveniente do clima, mas sim da solidão que se apossava dela pouco a pouco como se tentando engoli-la. A chuva então aumentou, no qual Marcos se fez obrigado a quebrar aquele silencio mortal.
- Vamos procurar abrigo!! – Ao qual no sinal afirmativo dela, correram para baixo de uma lona de sorveteria. O que ela mais queria certamente era um abrigo, um abrigo para a dor que lhe esquartejava o coração. Ela olhou por alguns segundos, pessoas felizes lá dentro através do vidro, e desconcertadamente se obrigou a voltar a sua triste situação. Sentaram-se num corrimão, ela olhou para ele por alguns segundos em silêncio e depois de um tempo meditando indagou:
- Você vai mesmo me deixar?
- Desculpe…
- Teria coragem? Depois de tudo que passamos, de todas lutas e sonhos partilhados?
Ela ergueu o rosto olhando por um momento para o céu, quando ele percebeu que lágrimas brincavam de contornar seu rosto tristonho. Ela sentia uma dor na alma que ninguém poderia aplacar, talvez só o tempo, mas o tempo certamente atende pelo SUS.
- Você tem que continuar sua vida, Dê. Pessoas entram e saem de nossas vidas todo dia…
- Mas ninguém como você. – Ela interrompeu bruscamente, como se mostrando que tem sangue nas veias. - Você não foi um mero vendedor de enciclopédias ou um testemunha de Jeová que bateu em minha porta num domingo de manhã. E se foi, deixei-o entrar. Tu fizeste diferença na minha vidinha sem graça. Lembra de quando me conheceu no primeiro ano da escola? Quando olho pra dentro do meu peito, não consigo não ver você dentro de mim.
- Pois agora precisará se habituar a isso. Terei que ser tratado como um inquilino que não está em dia com suas dívidas que precisa ser posto pra fora, ou como uma sujeira que o organismo precisa expelir…
- Precisa falar assim? Não percebe que está brincando com o que sinto por você?
- Desculpa. Só pensei que…
- Certamente não em mim, ao brincar com coisas que levo tão a serio como nosso amor.
Ele nada falou. Talvez nada havia para ser dito. Estava feito. Ela também não disse mais nada. Apenas recordava os bons momentos até ali vividos. Lembrou de uma vez que ele surpreendeu-a em sua casa num dia que estava de cama com uns DVDS para assistirem juntos. E era sarampo. De quando racharam um algodão-doce na roda gigante. Da cola que fez ambos serem expulsos da aula no dia de prova, no qual dali foram ao mirante admirar o pôr-do-sol. Também do dia que lhe disse que não podia viver sem ela pela primeira vez. Pensando nisso recordou a primeira flor que recebera dele. Tantos momentos… Mas não restava alternativa. Era algo sem volta, deveria ser enfrentado de frente. Aparado no peito. Sem egoísmos do momento, apenas saber levar…
- Marcos… – Soluçou ela, com as palavras quase que ainda presas a sua garganta.
- Sim?
- Quanto tempo temos?
- Uns 6 meses. Talvez mais, talvez menos. Difícil dizer. – Resignou-se ele.
- Só isso? - Suspirou ela.
- Se tivermos sorte. O médico disse que por se tratar de uma doença degenerativa minhas faculdades mentais podem ir antes disso…
- E o que faremos?
- Seremos felizes nesse tempo. – Ele abraçou-a fortemente, ela olhou em seus olhos. Sorriu, por mais difícil que fosse. Sorriram. Ambos partilhavam a vida novamente, agora com mais intensidade, visto que o fim nem sempre é um desfecho.
- Venha, vamos!! Já parou de chover, e o sol brilha acima das nuvens escuras.

E foram felizes enquanto puderam…


Saul Junior

Não há mais flores

on domingo, 1 de junho de 2008
Os lírios se foram,
Em seus lugares ficaram apenas sementes,
sementes da saudade que você deixou
e o aroma da falta que me faz

Saul Junior

Três estações

on sábado, 31 de maio de 2008
Cheguei à seguinte conclusão: O Brasil não tem estrutura para ter inverno. Sim, nosso país não possui as devidas condições para suportar essa bonita estação do ano. Deveriamos abdicar desses três meses gelados, que embora tragam momentos ímpares do mais puro êxtase parnasiano, para o bem geral de nosso povo.

Pensem comigo, a quantidade de pessoas que ficam doente nessa época não é brincadeira. Os hospitais entopem de material humano, e é comum vermos reportagens na tv mostrando crianças com problemas como brônquites, asma, Bronquiolite e outras patologias respiratorias que tem nomes tão desagrádaveis quanto seus sintomas. Poucos nebolisadores, muitas crianças. E os velhinhos? Pobres velhinhos. Tem senha? Lamento. Sente ali, se der prometo que lhe chamo. Não temos o que possa se chamar de Saúde eficiente no Brasil. Inverno. Passemos então. Não é pra nosso naipe.

E os moradores de ruas? Ok, mendigos se preferir. Se você sente congelar até a alma mesmo estando soterrada embaixo de pilhas e pilhas de cobertores, um mais grosso que o outro, dos mais diversos tipos de lã,imagine as pobres pessoas que vivem (viver não é a palavra certa, mas em frente) debaixo das pontes ou aquelas que estragam o visual bonito das praças da cidade vistas de sua janela perto da lareira, em seus bancos, tentando se tapar (e quando tem) com jornais. Meu Deus, como podem encarar o beijo de boa noite do chão de concreto frio e insensível abaixo deles sem lástimar suas sortes. Será que é querer demais uma vida mais classuda para os mendigos? Pobres homens em corpos de cãos, as margens da sarjeta que lhes parece alta demais. Embora alguns cachorros emergente passem melhor que eles. Têm até sobrenomes. Eles nem o pré-nome muitas vezes lembram. E quem vai ajuda-los? Superman, Batman? Politicos honestos que se preocupam com as mazelas sociais? Não, nenhum deles existem. São apenas fantasias de nossas mentes, preservadas de nossas infâncias quando ainda acreditávamos num mundo justo, utópico. A bolsa-familia não é tão bacana quanto parece. Essa bolsa não combina com os olhos, olhos esbugalhados de fome, de uma criança que não consegue dormir e chora. Que pena. Não tem fondue para vocês darlings. Assistencia Social? Não temos também.Que pena. Deixem o inverno partir. Não o detenham.

Que pretensão do Brasil, querer ser como os países de primeiro mundo, onde tem aquele friozinho gostoso, que você pode aproveitar no momento que lhe atrai. E que quando cansar é só ir para dentro de casa e ligar o termôstato, e puf! Sua casa está quentinha. Você também está.

Nosso país não tem estrutura mesmo, o que é uma pena. Não há nada tão gostoso como namorar num dia frio, vestir roupas mais elegantes para ir num restaurante, pés sem meias que se procuram durante a noite, assistir filmes embaixo de um grande cobertor tomando chocolate quente. Hmmmm... Que delícia, características que só o inverno tem, mas infelizmente que ninguém gostaria de aproveitar enquanto nossos irmãos passam maus bocados.

De repente se nos comportarmos melhor, votarmos com consciência, podemos requerer a volta do inverno. Mas só quando tudo estiver preparado, pronto para o recebe-lo. Talvez ele então possa se sentir mais livre para trabalhar e nos possa brindar com a tão sonhada neve. Desde que todos possamos nos aquecer durante o seu frio. Afinal, ninguém quer ter um coração frio.

Saul Junior

As vezes cansa gostar de ti

Eu sempre corri atrás de você. E como seria diferente se você é linda, engraçada, cativante e possui nos olhos o brilho das estrelas. Bem resolvida, interessante, assiste aos filmes típicos de mulheres, mas não chora. Aguenta firme para mostrar sua força. Dias depois externaliza isso ao ver sua bota preferida se sujar de lama. Tudo certo, afinal ninguém pode ser de ferro e ser tão delicada ao mesmo tempo.Tudo que você faz é belo, tudo que toca cria vida. Bonita, charmosa, carinhosa …

Porém cansei. Chega!! Não vou correr mais atrás de você, lhe implorar migalhas de sua atenção. Falei. Não será mais eu que gritará em sua janela pedindo pra te ver, nem fechar seus olhos e pedir que você adivinhe quem é. Flores não mais virão de mim. Porque você é tudo isso (e muito mais ), mas sou eu quem possuo a maior das qualidades. A maior e a melhor. Eu tenho apreço por você. Um amor profundo por ti, que me faz saber quão precioso sou.

Eu sei que esse sentimento que nutro é o que mais lhe atrai. É o que te faz saber que se necessário for, sairei nas noites frias do mais gélido inverno para achar o doce que lhe deu vontade de comer enquanto você assistia sua novela. Ou ainda que simularei uma queda para desviar a atenção daqueles que riam de uma gafe sua. Bancarei o tolo por você. Lhe deixar estourar as bolhas do saco plástico de onde veio nossa TV recém adquirida em grandiosas prestações. Romances não acontecem somente em palácios. Faço tudo por ti, é só você me pedir, sabes bem, que és meu maior bem. Que não deprecia, mas aprecia com uma expressão no rosto, quando lhe trago um café da manhã na cama, você em seu pijama, naquilo que chamo de uma imagem feliz ao te ver espreguiçar com um sorriso de sono.

Não quero te assustar, apenas te dizer que é sua vez. Se ponha em meu lugar. Esqueça ser feminista, não existe isso entre duas pessoas que se amam, se respeitam. Somos iguais, nem mais, nem menos. Apenas nós. Faróis de uma paixão insana, que nem por isso queima dinheiro ou baba lençol. Somos loucos um pelo outro mas somos sensatos a ponto de reconhecer que precisamos de espaço as vezes mas que, ei!! Não se distancie tanto. Posso precisar de você. Chegue mais perto, a cama está vazia de seu lado, desagravo. Algo está errado. Consertemos então.

Então ficamos assim. Você me ama por eu amar você. Mais que isso… Não posso viver sem ti. Corra atrás de mim, chame minha atenção, faça eu rir de suas tentativas, afinal não conheço amor sem humor. Faça um ninho em seus braços e tente me fazer pousar, me interessar. Não desista, também posso fingir desinteresse. Porém você sabe que é apenas charme, que preciso saber que você reconhece em mim tudo aquilo que vejo em você. Que me faz crer, que se tenho valor alguém correrá atrás de mim também. E quando vier em minha direção, espero que não esteja ofegante, mas sorrindo. Com um buquê de atenção pra mim, com uma expressão de “não te esqueci e jamais faria isso.” Vamos fazer de novo. Recomecemos. Tudo bem, volto ao meu papel, e você ao seu. Podemos brincar de namorar, se não cansar. Depois a gente toma fôlego e fazemos de novo. O amor é feito de recomeços, tropeços, acertos. Amassos. Não o de adolescentes, mas aqueles gestos que afofam o coração mas não danificam a lataria.

Você é a flor mais cheirosa de todos os jardins que procurei. Por favor, me conquiste também. Só isso que peço, e convenhamos, até é pouco. Perto da intensidade que nossos corações batem ao vermos um ao outro…

Saul Junior

O primeiro texto a gente nunca esquece

Escrever é uma arte, alguém disse certa vez em algum tempo já esquecido. E eu tive a sorte e a dádiva de nascer arteiro. Brincadeiras a parte, escrever é algo que transcende o ato de por pensamentos grafados num papel. É bem mais que isso, muito mais. Qualquer um pode escrever, qualquer um. Qualquer um pode escrever corretamente com o advento dos editores de texto, nos tornamos os mestres ortográficos, os menestréis da concordância.

Porém se engana quem acha que é fácil fazer um texto. É uma tarefa árdua que exige disciplina e sensibilidade. Disciplina para escrever todos os dias ao menos algumas linhas mesmo que seja aquela extensa lista do que comprar no supermercado. Claro, não espere convite para a academia de letras, mas é válido. Escrever sempre é válido. Sensibilidade para fundir o seu gosto com o de quem está lendo sem ser falso, sem se apunhalar a si mesmo (sim, escrever o que os outros gostam sem ser sua praia é um belo de um tiro certeiro no pé). Ser sensível a ponto de penetrar nas entranhas (ui!!) de quem está lendo, mais além até, na alma escrutinavel das pessoas descobrindo e desnudando até mesmo os seus mais tenebrosos pensamentos obscuros, tendo que saber lidar desde aqueles que lêem Guerra e Paz até aqueles que apreciam a obra de Charles M. Schulz., no simpático Peanuts (eu nunca li Guerra e Paz, me enquadro nas tirinhas). Tem que estar preparado para saber agradar a todos. Gregos e troianos… e você é claro.

Toda arte se desenvolve com o tempo, com a prática e a persistência. Eu finalmente tenho um espaço pra dizer o que eu penso, de praticar, de arriscar, de ser eu. É o lugar de errar. De ousar, tentar ser grande. Ser maior que grande. Ser mais maior. Acham que eu deveria grifar a parte de aqui ser o lugar de errar?

Creio que escrever num espaço assim pode se comparar a plantar uma arvore. Você tem que regar, cultivar e acima de tudo dar carinho. Todo dia!! E então verás depois de um tempo (maior do que aquele que esperamos, mas menor do que aquele que realmente merecemos) que seu trabalho árduo está grande e palpável e que lhe estende frutos deliciosos. É só erguer as mãos e pega-los de sua rede. Enfim, nada é tão fácil como parece…

Queria eu poder fazer como meus escritores favoritos, passear no parque de manhã, observar os pássaros, cheirar as flores. E correr pra casa com uma idéia incrível ao observar um formigueiro. Ou simplesmente deitar numa rede e bolar algo genial… mas como eu não ganho para fazer isso me possibilitando escrever de pantufas em casa numa manhã de sol,me contento em meio à correria do meu trabalho, quando o tempo me permitir, escrever coisas um pouco mais belas do que elas se apresentam no dia a dia, quando elas se revelam em sua forma bruta. Achar o que tem em mais belo em pegar um ônibus lotado enquanto um alemão de bigode ondulado esfrega as axilas, vulgo sovaco em você. É… Olhando desse ponto escrever é realmente tirar leite de pedra. Entretanto nada que me faça recuar, pois como diz o poeta da minha terra: Não se micha um povo vivente!!

Então aqui começa mais um momento de plantar de minha vida, no qual a certeza que eu tenho é que independente do que aconteça o sonho permanece. Não sou leviano a ponto de dizer que não gostaria que milhares de pessoas passassem por aqui lendo, comentando, elogiando, criticando, enfim… participando!! Seria bacana, mas o mais legal disso tudo é isso, estou praticando!!Aqui começa minha carreira literária, não é ainda uma coluna do jornal Zero Hora, mas quem sabe um dia… Ah!! Um dia…

Saul Junior