Vocês conhecem àquela do papagaio? Por décadas era assim que
as anedotas nasciam. Despidas de qualquer senso crítico e despreocupadas por sua
essência em trazer algum tipo de reflexão incutida em suas carcaças percorriam
salões, bares, clubes e até mesmo recônditos inocentes e pueris como escolas
trazendo o efeito inequívoco de fazer rir. Hoje não, o simples ato de contrair o
estômago alheio apenas com palavras e gracejos não parece mais satisfazer os cômicos
de nossa geração. É preciso causar.
Enxergo da seguinte maneira: O humor existe para nos
esconder das agruras cotidianas, ele serve para nos propiciar uma fuga do
estresse e para desanuviar nosso mal-humor oriundo de fábrica nessa maternidade
de loucos que é a cidade grande. Um homem vestido de mulher jogando uma torta
de morango na face de seu chefe é algo totalmente estupido, mas é uma ação que vai
mexer com nossa sensibilidade e contradizer nossas regras internas de algo
normal – Não se arremessa comida em patrões – nos induzindo a rir do absurdo,
aliviando as tensões; ainda distraindo nossa mente sempre entulhada. Se houver
uma ou outra lição de vida, tanto melhor. Porém é necessário salientar que a
ferramenta do humorista é o humor. Como não somos animais rasos temos inúmeras aptidões
e maneiras de pensar e por isso é até aceitável que temperemos nossas
atividades com um toque disso ou daquilo, mas não é correto deixar o pote de
condimento pessoal vazar; pode acabar ficando intragável. O papel do
legislador, por exemplo, é fazer leis. Que confusão teríamos se ele resolvesse
escrever sonetos em tempo integral. “Cada macaco no seu galho”, como dizem por
aí. Preciso que me façam rir. Mais que isso, quero gargalhar. Moral eu aprendo
em casa, pode deixar.
A comédia brasileira tem outro problema para se preocupar: O
politicamente correto. Os humoristas estão sendo cercados pela sociedade que
não sabe mais brincar. Besteira! Palavras ganham valor para quem as animam, se
deixarmos ela apenas no campo do jocoso desaparecerão como brisa. Palavras
fazem guerras, lembrem bem disso.
Então fica a lição aprendida: Piadistas façam rir, políticos
leis, famílias ensinem e a sociedade, por favor, a não se levar tão a sério.
Invoco um político que se atrapalhou em seu papel: “Relaxa e goza”. Viu como é
fácil se perder? Agora me deixe terminar àquela do periquito...
Essa foi minha redação na UFRGS em 2013, sobre o tema "O papel e os limites do humor na sociedade". Transcrevi o rascunho, espero que tire uma boa nota. Depois eu conto.
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