Parabéns, negão! Parabéns, branquelo! Japinha, fala aí! Narigudo,
magricelo, bipolar e você também, orelha de abano. Como tão? Gordinha sensual, aquele beijo pra ti. Não
gosto muito de escrever sobre temas batidos, daqueles que todo mundo dá seu
pitaco e ninguém chega a lugar nenhum. Muito menos quando eles são apoiados por
datas que por si só já fazem do assunto exaustivamente discutidos. Porém, não
dá pra não expressar a opinião em algo tão grande.
Acho o Dia da Consciência Negra uma data bonita. Não no
sentido de ornamental, pendurar no pinheirinho ou em cima da lareira, essas
coisas, mas sim de representação de marco. É importante você aprender a contar
os dias e delimitar as vitórias alcançadas. Uma vez por ano as pessoas que tem
a pele escura refletem, acho que o tema festejar não cabe aqui visto que é construído
em cima de muito sofrimento e combalidas voltas por cima na defesa de seus
direitos que foi escolhida essa época do ano, sobre tudo que passaram para
conquistar o que não deveria ser privado para ninguém independente do pigmento.
Erro histórico. E a conta vai pra quem? Vai para uma sociedade que a cada dia
mais se divide, se enfurece e que só é contida pela letra fria da lei.
Assim como o natal não é uma festa em que todos comemoram,
os judeus que o digam – que dirá os satanistas – e seu aniversário não é
feriado nacional não vejo nenhum problema de homenagearmos um grupo de pessoas
que merece os méritos de uma luta brava. Nos dois sentidos. É sem fundamento
quem diz que é exclusão um dia só para eles. Porém não posso me eximir de alicerçar uma
opinião que vai jogar um pouco de água nesse bolo. Um pouquinho só, me perdoem.
Se o dia é da Consciência Negra isso quer dizer que só quem
é negro deve refletir, conscientizar-se do valor humano? Devemos ser excluídos
de pensar porque os negros sofreram tanto nos nossos livros de história e nos
jornais de hoje em dia ainda sofrem diferenciação? Ta aí um grande erro. O
certo seria falar abertamente sobre o problema e convidar a todos a ter orgulho
de uma de nossas etnias. Daí amanhã podemos cantar vivas para os brancos e
ainda que tal semana que vem aplaudirmos os índios? Beleza então, combinado no
bar, fechou?
Não, Pedro Bó, não estou levantando aquela bandeira do dia
do branco porque é óbvio que isso é besteira. Besteira é segregar. Besteira é
obrigar. Que BESTEIRA é que eu esteja falando sobre cor sendo que o colorido é
tão mais bonito. Morgan Freeman já perguntou antes de mim por que estamos discutindo
a cor da pele.
Vou ainda mais longe. Não são as palavras que ferem os
direitos, a honra e o respeito. É aquilo que está embaixo acobertado por uma
malha de ódio e pura ignorância. Falar para o amigo que ele é “tão negro que é
azul” ou “tão branquelo que é azedo” não
é discriminação. Ao contrário, entre amigos acaba em risos. A problemática é
algo enraizado. São pessoas com a mente tão fechadas que cabem num envelope e
ainda passam por baixo da porta tamanha sua pequenez. Não adianta muito falar
para essas pessoas, elas só vão mascarar. Você pode prendê-las, mas elas só vão
esconder o que pensam para não entrar em cana. Mas lá no fundo continuarão
maquinando palavras mesquinhas e de ódio.
O que mudaria mesmo o mundo seria se fosse possível extirpar
a maldade do ser humano e preenchê-la com amor, ternura, amizade e todas essas
coisas que colocaram na receita das meninas superpoderosas. Infelizmente não
tem como. Porém a sociedade e o governo alimentam a ira e a desigualdade
promovendo diferenciação através de cotas que aumentam ainda mais a
intolerância. Eu não me digo contra as cotas, para pobres sou favorável embora
ainda ache que o dinheiro é mais bem aplicado em educação base, mas isso é
xalalá que todo mundo já fala. Não vou perder o tempo hoje nisso.
O que quis dizer nisso tudo é que no dia da Consciência
Negra você negro deve se orgulhar de sua luta e você branco (azedo ou não!) não
deve se sentir envergonhado de opinar e ajudar a fazer do nosso mundo um lugar
mais pensante. Pensante a ponto de ver as falhas nas estruturas e sugerir
melhoras. Pensante para verificar os acertos e as medidas para consertar os
balanços desiguais da gangorra da vida. Pensante a ponto de ter uma consciência
que não dependa da imprensa ou do governo ou do que lhe prejudica ou favorece.
Pensante para saber que como em uma aquarela ou uma pintura artística quanto
mais cores você tiver, melhor. Você faz sombra, você faz brilho, tom sobre tom
e no final você só faz uma coisa: Obra-prima.
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