A feira do livro de Porto Alegre é uma das maiores da
América Latina das que acontecem ao ar livre, lugar aberto. É o que dizem,
também não perguntei pra ninguém do IBGE pra ver se é verdade. O que sei de
concreto é que é muito satisfatório saber que temos pelo menos duas vezes ao
ano um local onde o foco seja a leitura e onde os holofotes estejam um pouco
distantes dos assuntos levianos de sempre. Porém ontem soube e hoje tive a
notícia do fato consumado que uma modelo posou nua em plena feira com inscrições
em tinta de frases e poemas de grandes pensadores das letras tatuados
provisoriamente em seu corpo. A ideia dos gênios pensantes por trás disso era
mostrar como a leitura poderia ser algo moderno, dinâmico e não monótono. Muita gente chiou e uma galera maior limpou a
lente de suas câmeras. Não quero entrar em mérito de certo ou errado, pois o
tempo e a história já nos demonstraram que tudo um dia cai por terra, até mesmo
as tetas balançantes dessa mulher um dia terão o mesmo destino gravitacional. Seja
como for o que me surpreendeu disso tudo foi a miopia de último grau em cima do
assunto tratado. Muitos gritaram bruxa e pegaram suas armas de inquisição
medievais (existem pensamentos tão retrógrados quanto esses artefatos) para
acusações em cima da peladice da dona, enquanto que outros só queriam um
lugarzinho na fila da leitura corporal. Teve até gente bancando o cego para ler
em braile. Porém choca poucas pessoas preocupadas com a mensagem
errônea que se quer passar. Ler não é algo tão ruim que só possa ser melhorado
no corpo de uma Globeleza da vida. Capaz. Ler é tudo de bom.
A intenção pode ser boa, mas a mensagem que ela quer passar
está meio torta. Está despida de sustância, está tão nua quanto a peladona. Ler é legal independente da forma, nisso
concordo, porém ler os poemas de Mario Quintana no corpo de um mulherão é para
um homem um pedido dos versos de” ignore-me”, por melhores que eles sejam.
Leitura não tem nada de “descolado”, tanto que ela é feita em particular e para
o próprio deleite e não em uma rave ou orgia. É um modo permitido por nós mesmos
de voltar a ser careta. Seja pelos estilos de leituras antigas com sua formas
não coloquiais e românticas de um jeito que o mundo não o é mais quanto pelo
fato do atrativo desse hobby ser mais duradouro do que baladas e drogas de celebridades.
Pois então, a proposta pareceu-me aqueles livros didáticos que enchem o
material de ilustrações coloridas numa tentativa de associação com o conteúdo,
mas que resulta apenas numa distração e enche nosso HD cerebral com uma vasta
gama de figurinhas repetidas.
Acho incrível nos
dias de hoje a maleabilidade da nudez. Claro que é legal, um corpo de revista
top de linha é sempre agradável aos olhos, mas concordo com quem diz que tem
lugar. A proposta da moçoila era de mostrar que a leitura pode ser mais
descolada. Porém nudez é sinal de ser legal? Nunca soube. E é óbvio que as
pessoas sabem que dá pra ler coisas legais desse tipo: Existe Playboy.
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